Em outubro de 2023, Taboão da Serra registrou o maior volume de chuvas dos últimos oito anos para o mês, com mais de 800mm de precipitação, conforme informações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), sendo o valor é o mais alto já registrado em 2023.
Os dados obtidos pela equipe da tab_jornalismo indicam que houve chuvas praticamente diárias ao longo do mês, com destaque para os dias 1, 7 e 8 de outubro, que ultrapassaram os 100mm de chuva por dia.
As chuvas, associadas aos ventos fortes, geraram estragos por toda cidade, principalmente devido à queda de árvores, fazendo com que a estrutura de energia e de água, em alguns locais, ficasse comprometida, como a do Parque Pinheiros, onde a queda de árvores interrompeu o fornecimento de eletricidade e causou o bloqueio da Avenida Paulo Ayres.
Por que isso é importante?
As intensas chuvas e as rajadas de vento que atingiram Taboão da Serra na sexta-feira (3) deixaram uma série de danos na cidade. Diversas árvores tombaram em várias áreas interrompendo o trânsito e o fornecimento de eletricidade.
Além disso, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou que, devido à falta de eletricidade, houve paralização na estrutura de distribuição do orgão, o que fez com que moradores do Condomínio Serra Verde e Vale dos Pinheiros ficassem também sem acesso à água, o que gerou protestos dos moradores.
Além das árvores, o impacto da tempestade se estendeu a outros locais, como o pórtico de entrada da cidade, que não resistiu aos ventos fortes e desabou, assim como o letreiro da academia SmartFit, que foi arrancado pelo vendo.
A falta de energia elétrica também afetou os moradores e comerciantes da cidade, perdurando até o início da tarde de sábado em alguns bairros, sendo que outros permaneceram no escuro até o domingo (5).
Em nota, a ENEL, concessionária de eletricidade em São Paulo (SP), informou que 2,1 milhões de clientes ficaram sem eletricidade, sendo que até o fechamento da reportagem, cerca de 1,9 milhão já tinham o serviço normalizado.
Contexto geral
O aumento no volume de chuvas que Taboão da Serra registrou em outubro e início de novembro pode ser atribuído a múltiplos fatores. Em parte, o evento foi desencadeado por um ciclone extratropical que se formou no Sul do país e se deslocou em direção ao oceano Atlântico.
Esse ciclone interagiu com uma massa de ar quente que estava estacionada sobre a região naquele dia, intensificando as condições climáticas. A combinação do choque entre massas de ar frio e quente resultou em chuvas torrenciais e rajadas de vento que atingiram velocidades excepcionais, chegando a 100 km/h.
O vento, porém, não é o único resposável pelas quedas de árvores na cidade, já que o manejo e poda da árvores também exercem influência na sua queda.
As interferências constantes, eventuais podas inadequadas e a falta de espaço para crescimento dessas árvores, podem enfraquecê-las, o que as torna mais suscetíveis a quedas em situações de chuvas fortes com ventos.
Os serviços de zeladoria muncipal são os responsáveis pela manutenção das árvores da cidade, e tem regulamento previsto na Lei Municipal 1.327/2000, a qual define, em seu artigo 10, a responsabilidade do Departamento de Meio Ambiente (DENAM) na realização desse serviço.
Nesse sentido, em outubro desse ano, a Prefeitura abriu licitação (Pregão nº G-007/2023) na qual prevê mais de R$4 milhões dedicados às equipes e materais que seriam necessárias para as podas anuais promovidas pela prefeitura, valor que incluiria equipe composta de engenheiro agrônomo, ajudantes de jardinagem, operadores de motosserra, entre outros.
O que dizem os números?
Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), obtidos a partir de 3 das 4 estações pluviométricas instaladas na cidade, mostram que as chuvas foram as maiores para o mês de outubro desde 2016.
As estações do CEMADEN que realizam a mediação do índice pluviométrico estão localizadas em 4 pontos da cidade, sendo que a reportagem da tab_jornalismo teve acesso aos dados das estações do Parque Assunção, Parque Industrial das Oliveiras e Jardim Maria Helena.
De acordo com os dados, Taboão da Serra acumulou aproximadamente 850mm de chuva em outubro, tornando-o o terceiro mês mais chuvoso já registrado na cidade. Janeiro de 2022, com cerca de 1036mm, e fevereiro de 2016, com 992.6mm, ocupam as duas primeiras posições.
O aumento nos índices pode também ser atribuído à ocorrência de chuvas em 24 dos 31 dias. Em mais da metade desses dias, a precipitação foi de pelo menos 4mm.
Comparado a outubro do ano anterior, o volume de chuvas aumentou em cerca de três vezes (310%), atingindo 850,72 mm em 2023, em contraste com os 206,86 mm de 2022. Esse valor é seis vezes superior (612%) à média registrada pelo Ministério de Minas e Energia em 2013, durante um estudo sobre deslizamentos e enchentes na cidade.
Em termos de medição, quando se registra 100 mm de chuva em uma região, significa que, em uma área de 1 metro quadrado, uma camada de 10 centímetros de chuva se acumulou. Essa medição é realizada com o auxílio de um pluviômetro, um dispositivo projetado para coletar e medir a quantidade de água que cai em 1 metro quadrado de superfície.
O que estão dizendo?
Em entrevista à Folha de S. Paulo, a metereologista do Instituto Nacional de Metereologia (Inmet), Deise Moraes, destacou que, embora as chuvas sejam esperadas para esse período do ano, as rajadas de vento foram excecpcionais.
“Havia um aviso de alerta para um sistema frontal [encontro de massas], que se formou por causa de uma frente fria na região Sul e também por causa do ciclone extratropical, que se afastou para o oceano e deixou a ventania no continente. Por isso, atingiu o estado de São Paulo”, disse Moraes.
O Inmet também apresentou recentemente relatório sobre a previsão do clima até o ínicio de 2024, no qual informa que é possível a continuidade de chuvas acima do normal tanto na região Sul, quanto na Sudeste do país.
“[Para] Região Sul, parte de MS, de SP e sul de MG, a previsão indica maior probabilidade de chuva acima da faixa normal. […] Esta previsão reflete características típicas de El Niño no Brasil atuando em conjunto com condições de aquecimento anômalo do Atlântico norte”, aponta o relatório.
O instituto também ressaltou que há possibilidade de novas ondas de calor na região, que tem impacto no regime de chuvas no Estado de São Paulo e região.
No que diz respeito ao fornecimento de energia elétrica, que foi afetada pelas chuvas, o presidente da ENEL, Max Xavier Lins, realizou uma coletiva de imprensa na quarta-feira passada (8) para avaliar os danos causados.
“O evento da sexta-feira passada foi de uma magnitude enorme. Foi algo que os próprios institutos de meteorologia não previam (…) Tivemos rajadas de até 105 km/h. Isso teve um impacto destruidor sobre a rede de energia elétrica, sobretudo porque é uma rede majoritariamente aérea. Temos 43 mil km de rede, dos quais 2 mil km são subterrâneos e 41 mil km são aéreos”, disse.
O presidente também afirmou que cerca de 11 mil imóveis continuavam sem eletricidade na cidade de São Paulo, ainda que a concessionária tenha prometido total restauração do serviço até a última terça-feira (7), o que não ocorreu.
Em suas redes sociais, o prefeito José Aprígio (Podemos) afirmou que a equipe da Defesa Civil da cidade tem trabalhado para lidar com os estragos produzidos pela chuva, e destacou a cobrança da Enel para o reestabelecimento da energia na cidade.
Saiba mais
Em resposta aos estragos provocados pelas chuvas, de acordo secretário de Assuntos Jurídicos, Matheus Motta, o Procon Municipal notificou a concessionária, além de ter mobilizado esforços para orientar os munícipes mais impactados, especialmente devido aos problemas causados pela falta de energia elétrica, que é de responsabilidade da Enel.
Entre os dias 10 e 18/11, o órgão de defesa do consumidor realizará uma operação itinerante em diversos bairros, com o propósito de auxiliar os cidadãos que sofreram prejuízos materiais. Além disso, oferecerá orientações sobre o direito ao ressarcimento, esclarecerá dúvidas e permitirá que os moradores registrem reclamações.
Aqueles que preferirem poderão se dirigir ao Procon Municipal, localizado na Estrada Kizaemon, 1987, Pirajuçara, de segunda a quinta-feira, das 08h30 às 16h30.
O atendimento também está disponível por telefone (4786-2986 ou 4786-2987) e online, por meio do e-mail procon@ts.sp.gv.br.