11/12/2024

Taboão da Serra registra média de 7 furtos por dia no 3º trimestre, aponta SSP

Levantamento exclusivo da tab_jornalismo, com base em dados da SSP-SP, revela dinâmica dos furtos no município entre julho e setembro de 2024.
João Gabriel Leite

Taboão da Serra registrou 694 furtos no terceiro trimestre de 2024, segundo levantamento exclusivo da tab_jornalismo, com base em dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP). O período, compreendido entre julho e setembro, contabilizou 525 furtos comuns e 169 furtos de veículos, uma média de 7 por dia.

Os dados foram extraídos do Sistema Estadual de Coleta de Estatística Criminal, abrangendo o período de 1º de janeiro de 2022 a 31 de outubro de 2024, totalizando 16.824 ocorrências diferentes no município.

O índice representa aumento de 18,8% em relação o período de abril a junho de 2024, e de 10,3% na comparação com julho e setembro do ano passado. O levantamento mostra que agosto foi o mês com mais casos (240), seguido por julho e setembro, ambos com 227.

A análise, que também considera a geolocalização das ocorrências, aponta o Parque Pinheiros (46), Jardim Record (24) e Vila Santa Luzia (23) como os bairros com maior incidência de furtos no período, que ocorreram principalmente terças, quartas e quintas-feiras, durante madrugada. Veja análise completa na seção O que dizem os dados?

Por que isso é importante?

O aumento no número de furtos tem se tornado um problema crescente em diversas cidades do Brasil e do mundo, impactando diretamente a sensação de segurança dos moradores e na implementação de políticas públicas de segurança.

A resposta mais comum do poder público a esse tipo de crime costuma envolver o reforço do patrulhamento ostensivo e a ampliação da vigilância com câmeras de segurança, além de aumento do poder de fogo tanto das polícias sob o governo do Estado, quanto das Guardas Civis Municipais.

No entanto, pesquisas recentes sugerem que outros fatores, como a dinâmica do espaço urbano e a percepção do ambiente pelos cidadãos, também exercem influência significativa na ocorrência de furtos.

O que dizem os dados?

O levantamento da tab_jornalismo analisou 16.824 ocorrências registradas em Taboão da Serra entre janeiro de 2022 e outubro de 2024, sendo que a reportagem considerou informações sobre o tipo de crime, data, horário, endereço e localização geográfica de cada registro, com foco nos furtos ocorridos no município.

Somente no período de julho a setembro de 2024, Taboão da Serra contabilizou 694 furtos. Julho e setembro registraram o mesmo número de ocorrências: 227 cada, enquanto Agosto teve o maior número de furtos no trimestre, com 240 registros. Do total de furtos no período, 525 foram classificados pela pasta como furtos comuns ou “outros”, enquanto 169 foram furtos de veículos.

Para furtos comuns, 80% dos boletins de ocorrência foi feito de maneira remota, através da Delegacia Eletrônica da Polícia Civil. Cerca de 8% desses furtos foram registrados presencialmente no 1º Distrito Policial (DP), localizado na região central de Taboão da Serra, enquantos os demais foram registrados no 2º DP (6%), situado na Estrada Kizaemon Takeuti, no Jardim Clementino, ou em outras delegacias (>6%).

No caso dos furtos de veículos, a Delegacia Eletrônica também foi o canal mais utilizado, com 57% dos registros. Já o 1º DP recebeu outros 26% dos boletins de ocorrência relatando o crime, enquanto 8% foram registrados no 2º DP.

A análise geográfica dos dados aponta para uma concentração de furtos em determinadas áreas da cidade. O Parque Pinheiros lidera o ranking no total de ocorrência, acumulando 165 ocorrências até outubro de 2024 – o equivalente a 10% do total de furtos no município. No terceiro trimestre, o bairro registrou 46 furtos, sendo 11 deles furtos de veículos.

O Jardim Record aparece na sequência, com 85 furtos no acumulado do ano e 24 no terceiro trimestre, sendo apenas 2 de veículos. O Parque Santos Dumont, embora ocupe a terceira posição no acumulado anual, com 120 registros, teve 20 ocorrências no terceiro trimestre, ficando atrás da Cidade Intercap (também com 20 furtos) e da Vila Santa Luzia (23 furtos), que completam as cinco localidades mais afetadas entre julho e setembro.

O levantamento também identificou padrões na distribuição temporal dos furtos. As terças-feiras concentraram o maior número de ocorrências (335), seguidas de perto pelas quintas (330) e quartas-feiras (326).

Segundas (307) e sextas-feiras (310) apresentaram números semelhantes, enquanto os finais de semana, sábados (258) e domingos (271), registraram os menores índices de furto.

Quanto à distribuição horária, o levantamento identificou padrões distintos. Na madrugada, o pico de ocorrências se concentra às 3h, com 96 registros de furto. Durante a manhã, há um novo aumento no número de furtos entre 9h e 11h.

Já no período da tarde e início da noite, dois intervalos demonstram maior incidência: entre 14h e 16h (média de 57 furtos) e entre 19h e 21h (58 furtos). Esses horários coincidem com maior movimentação de pessoas nas ruas, especialmente em bairros mais populosos, como Parque Pinheiros e Jardim Record.

O que estão dizendo?

O aumento de furtos em cidades como Taboão da Serra reflete um problema comum em áreas urbanas. A dinâmica do espaço urbano e sua percepção pelos moradores são apontadas por pesquisadores como fatores cruciais para entender e combater esse tipo de crime.

Um estudo sobre o tema foi produzido pelo Dr. Hanlin Zhou, professor assistente do Departamento de Geografia, Sustentabilidade, Comunidade e Estudos Urbanos da Universidade de Toronto, e outros 4 pesquisadores em Toronto, no Candá.

Obras para construção de nova via para ligar as Ruas Palmital e Fernando Pessoa, na chamada Viela Araújo, no Jardim Comunitário. Foto: Divulgação (Prefeitura de Taboão da Serra).

A pesquisa reflete a influência das condições do ambiente na ocorrência de crimes, e utilizando imagens do Street View e aprendizado de máquina, mostrou a relação entre elementos de mobilidade urbana – com a condição de ruas, veículos e calçadas – e a dinâmica criminal.

Segundo os autores, interseções com maior incidência de crimes “tendem a estar relacionadas a mais recursos relacionados à mobilidade […] e menos elementos naturais”.

Essa preponderância de elementos ligados à mobilidade em áreas com mais crimes sugere que locais com grande fluxo de pessoas e veículos, podem, involuntariamente, oferecer mais oportunidades para furtos, oferecendo rotas de fuga, pontos escuros e outras condições facilitariam as ocorrências.

Outro aspecto relevante é a influência da estética urbana na segurança. As percepções que gerariam a sensação de “beleza” e de características como “depressão” sobre a localidade nos moradores, segundo os pesquisadores, seriam variáveis mais significativas para explicar os crimes, isso porque a percepção da estética e o estado emocional gerado pelo ambiente com praças, árvores e outras estruturas urbanas exerceriam impacto positivo na própria mitigação dos crimes.

A prefeitura construiu em 2020 o termimal do Vai-e-Vem que liga a cidade à Linha 4 Amarela do metrô de São Paulo. Foto: Divulgação/Ricardo Lima (Prefeitura de Taboão da Serra)
“Estes resultados sugerem que o aumento da vegetação e a melhoria da estética das ruas podem servir como medidas eficazes de prevenção do crime em ambientes urbanos”, afirmam.

Olof Bäckman, professor de criminologia e sociologia da Universidade de Estocolmo, corrobora essa perspectiva com outros dados. Sua pesquisa sobre furtos em municípios suecos analisou a influência de fatores sociais na criminalidade.

Dahlbäck argumenta que “a densidade populacional e os laços sociais fracos […] têm forte interação com vários fatores contribuintes”.

O estudo demonstra a associação entre densidade populacional e fragilidade dos laços sociais – como desintegração familiar e isolamento cultural – e taxas mais altas de furto. A convergência de “ofensores motivados” e “alvos adequados”, demonstrada por Dahlbäck, reforça a importância de considerar a dinâmica social e o contexto espacial na análise da criminalidade.

As pesquisas sugerem que o combate aos furtos exige estratégias multifacetadas, que vão além do policiamento local, que em Taboão é feito pela Guarda Civil Metropolitana, ou mesmo pelo monitoramento por câmeras, disponibilizado pela prefeitura esse ano.

A Base da GCM do Pazini, na Rua das Margaridas. Foto: Divulgação (Prefeitura de Taboão da Serra).

Para esses pesquisadores, além dessas ações, investir na qualidade do ambiente urbano – tanto através de infraestrutura urbana, quanto através de elementos naturais –, fortalecer laços sociais e promover a coesão comunitária são medidas essenciais para a prevenção.

Os resultados apontam também para análise contínua de dados e a compreensão da dinâmica social e espacial dos furtos são fundamentais para políticas públicas eficazes.

Saiba mais

Os dados com as estatísticas criminais é apresentado pelo Sistema Estadual de Coleta de Estatística Criminal da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SP), e estão em formato Excel. O acesso é livre, público e gratuido.

Foto capa: Divulgação (Prefeitura de Taboão da Serra).