14/02/2025

O preço de adiar soluções

As chuvas das primeiras semanas de fevereiro de 2025 deixaram um rastro de destruição em Taboão da Serra. Em menos de seis horas, o volume de água ultrapassou os dois metros de altura em alguns bairros, atingindo um recorde preocupante. O fenômeno, embora excepcional em sua intensidade, não pode ser tratado como uma surpresa.

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para o aumento da frequência de eventos extremos devido ao aquecimento global. O ano de 2024, o mais quente já registrado, superou a média histórica em 1,5°C, intensificando padrões de precipitação e agravando riscos urbanos.

Taboão da Serra, município mais adensado do país, registrou outro recorde: 728 mm de chuva nos dez primeiros dias de fevereiro — o equivalente a mais de 14 bilhões de litros de água despejados sobre a cidade, conforme revelou a tab_jornalismo.

Ainda que o volume atípico de chuva justifique parte da tragédia, a recorrência das inundações denuncia a inércia de sucessivas gestões municipais. A vulnerabilidade de certas regiões é bem documentada por pesquisas acadêmicas e institutos especializados, mas pouco se reflete em políticas eficazes. Bairros como a Vila Santa Luzia, no centro, convivem há décadas com enchentes severas.

O piscinão na entrada da cidade, cujo odor recebe visitantes e moradores, já não dá conta do volume crescente de água. Seu esgotamento é reflexo de um modelo de gestão pautado em obras paliativas e de impacto eleitoral imediato, em vez de soluções estruturais para o problema ambiental.

A revisão do Plano Diretor, prevista para este ano, representa uma rara oportunidade de reorientar o planejamento urbano. A cidade precisa de medidas efetivas para adaptação climática, incorporando conceitos como infraestrutura de drenagem sustentável, cidade-esponja e mitigação de ilhas de calor.

Taboão da Serra não pode mais adiar um planejamento ambiental sério. A negligência custa caro — em bens, renda e, sobretudo, em vidas.