20/07/2023

CETESB monitora 23 áreas por contaminação em Taboão da Serra

Jardim Três Marias, Parque Industrial das Oliveiras e Vila Santa Luzia têm risco confirmado
João Gabriel Leite

Um levantamento exclusivo feito pela tab_jornalimso por meio de relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) revela a existência de 23 áreas monitoradas por contaminação em Taboão da Serra.

De acordo com o documento, foram identificadas três áreas com risco de contaminação confirmada nos bairros do Jardim Três Marias, Parque Industrial das Oliveiras e Vila Santa Luzia.

Essa contaminação é apontada como sendo proveniente das empresas Bell Type Industries Ltda., Polynt Composites Brazil Ltda. e Posto de Serviços Dawanesi Ltda., respectivamente.”

Nos locais foram encontrados solventes halogenados e aromáticos, combustíveis automotivos e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH) como principais grupos de contaminantes.

Taboão da Serra tem a maior parte das áreas já reabilitadas ou sob remediação, ainda que o relatório não seja claro, em muitos casos, qual medida foi aplicada. Ilustração: tab_jornalismo (Flourish)

Outras 6 áreas da cidade estão em processo de descontaminação, 3 estão em monitoramento para reabilitação do terreno, e 9 já foram reabilitadas para uso. A CETESB também investiga duas outras áreas na cidade.

Por que isso é importante?

O relatório revelado pela tab_jornalismo mostra detalhes do estado das águas subterrâneas do município: contaminantes encontrados, responsáveis e ações por parte da CETESB.

O relatório traz uma lista de 23 áreas, sendo cada uma delas classificada de acordo com a fase de contaminação em que se encontram, desde a investigação até a reabilitação.

Ilustração: tab_jornalismo (Flourish)

As informações sobre essas localidades afetadas fazem parte do Sistema Integrado de Áreas Contaminadas e Reabilitadas (SIACR), que se encarrega de realizar o monitoramento detalhado.

Além disso, a CETESB divulga regularmente o Relatório de Áreas Contaminadas e Reabilitadas no Estado de São Paulo, abrangendo todas as áreas em que o órgão atua ou atuou, com informações constantemente atualizadas.

Todas informações são públicas, e podem ser acessados por qualquer cidadão de forma gratuita.

Contexto geral

O debate sobre a contaminação do solo e da água se intensificou após a audiência pública realizada em 21 de junho deste ano pela Câmara Municipal de Taboão da Serra.

Durante o evento, foram discutidas propostas relacionadas ao cemitério vertical, com participação de representantes de associação de moradores, membros da OAB e o representante do Grupo Colina, responsável pelo projeto.

O vereador Anderson Nóbrega (MDB) se posicionou contrário à construção do empreendimento. Foto: Leandro Barreira/CMTS (Flickr)

Durante a audiência, foram abordados diversos pontos sobre o empreendimetno, incluindo preocupações sobre a possível contaminação do solo devido à construção do empreendimento.

O vereador Ronaldo Onishi (DC), que presidiu a sessão, mencionou a ideia de questionar a CETESB sobre a contaminação potencial do local.

Além das questões psicológicas e estéticas, Onishi ressaltou a importância de verificar a classificação atual da região onde o cemitério seria construído.

O vereador Ronaldo Onishi durante fala no plenário da Audiência Pública sobre o cemitério vertical no dia 21. Foto: Leandro Barreira (Flickr CMTS)

Em sua fala, Onishi citou convocar o presidente da CETESB, Thomaz Miazaki de Toledo. Na última sexta-feira (14), em suas redes sociais, o vereador divulgou um requerimento aprovado pela Câmara Municipal e protocolado junto à Companhia contra a contrução do cemitério.

Por outro lado, Eurípedes Oliveira, representante do Grupo Colina, afirmou que, de acordo com os levantamentos realizados pela empresa, não havia relatos de contaminação na área do projeto do cemitério vertical.

Eurípedes Oliveira, representante do Grupo Colina, durante fala na audiência pública de 27 de junho para discussão da proposta do Cemitério Vertical no Maria Rosa. Foto: Reprodução (Youtube).

O relatório não menciona nominalmente o Jardim Maria Rosa como uma das áreas atualmente classificadas pela CETESB, no entanto mostra vários focos de contaminação nos arredores do bairro, como o Centro e Jardim Bom Tempo.

Postos de combustível lideram a lista de contaminações

Os dados mostram que a maioria dos focos de contaminação foram causadas por combustíveis e produtos químicos para veículos, com 13 postos de combustíveis autuados por contaminação no local onde funciona o estabelecimento.

Embora o relatório não especifique as datas das autuações, tanto postos ainda em operação quanto postos já fechados foram notificados pela CETESB, sendo que alguns já deram lugar a outros empreendimentos.

Ilustração: tab_jornalismo (Flourish)

Um exemplo é o Auto Posto Parque Pinheiros Ltda., na Avenida Paulo Ayres, nº 626, Parque Pinheiros.

O posto funcionou de abril de 1989 até fevereiro de 2012, quando foi fechado, dando lugar a uma farmácia da rede Drogasil que permanece no local até hoje.

Nessa região, a CETESB encontrou 4 grupos de contaminantes: Solventes Halogenados, Solventes Aromáticos, Combustíveis Automotivos, Hidrocarbonetos Totais de Petróleo (TPH).

Visão da área onde foi o Auto Posto Parque Pinheiros em 2010, já depois de sua desativação. Fonte: Google (Reprodução)

Entre as medidas aplicadas o relatório lista a restrição ao uso de água subterrânea e extração multifásica, método de descontaminação que trata a área em diferentes etapas.

Outro posto de combustível é Auto Posto Praça do Taboão Ltda., que funcionou entre outubro de 2003 até meados de 2009, na Praça Nicola Vivilechio, nº 103, onde hoje fica um prédio comercial, que conta com restaurante, imobiliária e empório, além de outras empresas.

Depois da sua desativação, o Auto Posto Praça do Taboão foi utilizado como estacionamento do bar Pachá. Foto do ano 2010. Fonte: Google (Reprodução)

O antigo posto foi listado como responsável por 4 grupos de contaminantes encontrados no local, sendo eles: solventes aromáticos, Hidrocarbonetos Totais de Petróleo (TPH) e Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (PAH), além de combustível automotivo.

De acrodo com o relatório, a remediação foi feita com extração de vapores e do solo, além de aplicação de Air Sparging — a técnica consiste em injetar ar comprimido na água subterrânea para remover substâncias contaminantes.

Outros focos listados pela CETESB

Empresas de fabricação de produtos químicos e medicamentos também estão listadas no monitoramento feita pela CETESB.

Segundo o relatório, a Biolab Sanus Farmacêutica S.A., teve duas notificações de contaminação, sendo autuada pela presença de grupos de contaminantes dos tipos solventes halogenados, metais e Hidrocarbonetos Totais de Petróleo (TPH).

Embora tenham sido autuadas, algumas empresas já atuaram para remediar as áreas. Foto: Divulgação (Biolab)

A área onde está a empresa hoje foi ocupada pela Multiforja por mais de 20 anos, entre a primeira metade dos anos 1970 até meados de 1997, quando se mudou para o centro.

Em uma das áreas, a da R. Paulo Ayres, nº 280, o relatório indica que houve o bombeamento e tratamento dos contaminantes como estratégia de descontaminação.

Hoje, essas áreas estão listadas como Área Contaminada em Processo de Remediação (ACRe), já que houve apontamento de medidas como uso de EPI adequado por funcionários que tiverem contato com poços em que foram identificados os contaminantes, como descrito em relatório de monitoramento feito pelas empresas temambiente e PLANTERRA Ambiental a que a reportagem teve acesso.

Já terreno da Cosmed Indústria de Cosméticos e Medicamentos S.A., fabricante também de cosméticos conhecida como Niasi, foi considerado Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR).

Isso significa que o local passou por intervenções para reduzir os riscos à saúde e ao meio ambiente, mesmo que ainda possam haver resquícios de contaminação.

A área da Cosmed foi recentemente comprada pela Prefeitura para construção de sua nova sede. Foto: Equipe tab_jornalismo.

Porém, o relatório não evidencia qual foi a medida tomada para descontaminação, registrando apenas que houve interrupção do acesso a água subterrânea no local.

Os demais grupos, compostos por empresas de produtos em aço e aluguel de máquinas para indústria e outras causaram cada um foco de contaminação diferente

O que dizem os dados?

Quanto à atuação da CETESB, ao todo, todas as áreas tiveram restrição ao uso da água subterrânea, sendo que a companhia realizou avaliação de risco em 6 áreas, enquanto em 21 áreas foi realizada investigação confirmatória.

Dessas áreas, o Parque Pinheiros é o bairro mais afetado da cidade, com quatro áreas contaminadas, duas já estão processo de remediação, e uma está sob investigação.

A maior parte dessas contaminações no bairro foi causada por solventes halogenados, mas há presença também de Hidrocarbonetos Totais de Petróleo (TPH) e Metais. O bairro está em uma região que tem cerca de 22 mil pessoas, de acordo com dados mais recentes do Censo sobre a região.

A região 04 é a região mais afetada e é composta pelos bairros: Jardim Freitas Junior, Jardim Guaciara, Jardim Pirajussara, Jardim Record, Jardim Roberto, Jardim São João, Jardim São Salvador, Jardim Triângulo, Jardim Trianon, Sítio das Madres, Vila Mafalda. Ilustração: tab_jornalismo (Flourish)

Já solventes aromáticos foram encontrados em 16 das 23 áreas monitoradas e é muito utilizado no mercado de automóveis, como um dos compostos usado em aditivos para gasolina.

Solventes como o benzeno, o tolueno e o xileno, podem ser adicionados à gasolina em pequenas quantidades para aumentar seu rendimento. Porém, a exposição a longo prazo a essas substâncias pode trazer riscos à saúde.

O tolueno, por exemplo, é dos compostos avaliados pela CETESB. É um líquido incolor com odor bastante típico. No caso de postos de combustível, ele é usado como mistura para gasolina.

Ilustração: tab_jornalismo
“O fato [desses tipos de solventes] serem muito voláteis aumenta o risco de intoxicação via respiratória, […causando] danos locais como dermatoses, lesões musculares localizadas, ou até mesmo alterações respiratórias isoladas.” Explica o Dr. Expedito Bezerra Barbosa Júnior, médico pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.

Em exposições breves ou a baixas concentrações, esses sintomas tendem a desaparecem após a exposição cessar.

No entanto, Dr. Barbosa Júnior, que é também Coordenador do Programa Agentes APM, rede de formação de jovens médicos de alta performance, destaca que esse tipo de substância pode permanecer mais tempo no corpo.

“[…]A propriedade de serem lipossolúveis, ou seja, moléculas capazes de se dissolverem e atravessarem tecido adiposo, faz com que sejam […] armazenados por mais tempo no organismo”

Entretanto, a exposição prolongada pode levar a quadros mais graves, podendo atingir os trabalhadores da indústria, prestadores de serviço e até moradores das regiões próximas ao foco de contaminação.

“[Esses] contaminantes podem causar simultaneamente alterações hepáticas, renais, cardio-respiratórios que podem cursar com danos agudos ou crônicos, [como] insuficiência respiratória e parada cardiaca, [além de] alteração na cognição, devido a danos no Sistema Nervoso Central, podendo elevar a chances de desenvolvimento de Alzheimer ou até mesmo Neoplasias (Câncer), devido o potencial de dano molecular.”

Como os sintomas da intoxição por esse tipo de contaminante podem ser difíceis de identificar por serem comuns, como dor de cabeça, tontura, diarreia, e alterações na respiração, Barbosa Júnior orienta que profissionais locais procurem o Centro de Assistência Toxicológica (CEATOX) mais próxima para buscar orientações.

“Em caso de dúvida, o profissional da saúde pode ligar ao CEATOX de sua referência, informar a anamnese do paciente, explicando os sintomas e o contexto geral. O funcionário do CEATOX [poderá orientar sobre quais são] as possibilidades e o tratamento adequado para cada situação.”

O que dizem as partes?

Em nota, Biolab informou que a área em questão foi adquirida pela empresa entre 2010 e 2011, anteriormente ocupada por uma forjaria por cerca de quatro décadas, utilizando insumos que incluíam hidrocarbonetos de petróleo.

Após aquisição da área, a Biolab comprovou a presença de tais resíduos e informou a CETESB. O passo seguinte foi a elaboração de um plano de limpeza, tratamento e recuperação da área, conforme Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas publicado pela CETESB” diz a nota.

A farmaceutica também ressaltou que o plano de remediação apresentado pela empresa foi aprovado pela CETESB e que após todos os procedimentos “a Biolab está na fase final de remediação da área”.

No entanto, embora o processo esteja em fase final, de acordo sistema de autuações da CETESB, a Biolab foi multada em R$ 500 por não ter executado a Investigação Detalhada exigida por meio do Parecer Técnico emitido pela CETESB.

Em relação à multa, a empresa respondeu que “[…] está exercendo o seu direito de defesa no processo administrativo”, de modo que “toda e qualquer penalidade ou multa que vier a ser aplicada poderá ser objeto de questionamento judicial pela Biolab.”

Já a Polynt Composistes Brazil Ltda, hoje administrada pela Grupo Reichhold, de origem norte-americana, respondeu que desconhece as autuações da CETESB, afirmando, via e-mail, que

“O terreno mencionado foi vendido em 2018 e já nesta época a Polynt procedia todos os estudos ambientais e possuía todas as licenças e sua regularidade frente a Cetesb e órgãos ambientais.”

O sistema de autuações da CETESB, porém, mostra que a região da empresa foi advertida ainda em janeiro de 2018 sobre a presença de contaminantes em águas subterrâneas em seu local de funcionamento.

Print do sistema de autuações da CETESB, no qual consta a advertência à empresa Polynt. Foto: Reprodução (CETESB)

Já o Posto de Serviços Dawanesi Ltda. foi fechado devido a uma série de processos envolvendo a Fazenda Nacional e entrega de obrigações fiscais, e não conesguimos localizar contato para obter respostas. O convite continua aberto.

Saiba mais

Para obter mais informações sobre o gerenciamento de áreas contaminadas e as ações desenvolvidas pela CETESB, acesse o site oficial da companhia ou entre em contato com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) para solicitar o relatório completo sobre a relação de áreas contaminadas e reabilitadas em Taboão da Serra.