21/06/2023

Audiência pública discutirá projeto de cemitério vertical no Jd. Maria Rosa

Moradores e vereadores se reúnem para avaliar impactos positivos e negativos da proposta
João Gabriel Leite

Os vereadores Dr. Ronaldo Onishi (DC), Luzia Aprígio (PODEMOS) e Anderson Nóbrega (MDB) convocaram uma audiência pública para discutir o projeto de construção de um cemitério vertical de cinco andares no Jardim Maria Rosa, região central de Taboão da Serra (SP).

O evento está programado para ocorrer hoje (21), às 18h, na Câmara Municipal de Taboão da Serra, com o objetivo de debater e esclarecer questões relacionadas ao projeto em questão e será transmitido pelo YouTube.

Durante a audiência, serão discutidos aspectos como licença ambiental, o Relatório de Impacto de Vizinhanças, entre outras questões técnicas.

Por que isso é importante?

Cemitérios verticais são estruturas para sepultamento que visam aproveitar melhor o espaço nas áreas urbanas, especialmente em regiões muito povoadas, como é o caso da Serra, com densidade populacional de 11.994,31 hab/km², de acordo com Censo 2010.

Em geral, a estrutura é composta por prédios de vários andares onde os corpos podem ser sepultadas em gavetas verticalizadas, que permitem o melhor aproveitamento do espaço.

Memorial Necópole Ecumênica é um dos exemplos de cemitério vertical, localizado em Santos (SP), teve sua construção iniciada em 1983 e finalizada em 1991. Foto: Divulgação.

Por um lado, esse tipo de estrutura ajuda a resolver o problema da falta de espaço nos cemitérios tradicionais, aproveitando áreas urbanas limitadas.

Além disso, o cemitério vertical pode atrair empreendimentos do ramo funerário e implementar práticas sustentáveis, como uso de energia solar, emprego materiais ecologicamente corretos e ampliação da área verde da cidade.

Por outro lado, a construção de um cemitério vertical pode causar problemas na localidade em que é instalado, isso porque pode haver aumento do congestionamento de tráfego próximo ao local, maior demanda por serviços públicos como energia e água, e preocupações com a estética do prédio. Há também preocupações com possíveis impactos na saúde pública, como a contaminação do solo e da água.

Contexto geral

Os cemitérios verticais têm sido objeto de discussão entre especialistas, levantando questões sobre os impactos ambientais e urbanos dessa alternativa aos cemitérios tradicionais.

Essa tendência, que já é comum nos Estados Unidos, Europa e Japão, também tem ganhado espaço na América Latina, com destaque para o Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos (SP).

Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos (SP). Fotografia: EPA

O Memorial Necrópole Ecumênica, idealizado pelo empresário argentino Pepe Altstut, construída em 1983 e inaugurada em 1991, é o 1º cemitério vertical da América Latina e o mais alto do mundo, segundo o Guinness Book.

Com uma área total de 40 mil m², sendo 90% de reserva nativa de Mata Atlântica, de acordo com o site oficial do Memorial,possui 18 mil lóculos, salas de velório, cinerário, mausoléus, restaurante 24 horas, estacionamento, capela, aviário e um museu de veículos.

O local foi o escolhido como local de sepultamento de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, ex-jogador da seleção brasileira, após sua morte em dezembro de 2022.

Quais são os pontos positivos?

De acordo com o artigo publicado na Revista Agro@mbiente On-line, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), com nome Análise e identificação dos impactos ambientais da implantação e operação de cemitério vertical,os cemitérios verticais podem oferecer vários benefícios.

Entre eles a otimização do espaço da cidade, uma vez que ocupam uma área significativamente menor, quando comparados a cemitérios horizontais, como o Cemitério da Saudade, na Vila das Oliveiras.

Cemitério da Saudade. Foto: Reprodução.

O estudo também ressalta que a estrutura do cemitério vertical também pode reduzir a contaminação do solo e águas subterrâneas pelo necrochorume, desde que sejam considerados os requisitos técnicos de segurança na implementação dos espaços, como construção de gavetas com concreto armado e filtragem do necrochorume.

A construção de cemitérios verticais também pode considerar, por exemplo, a implementação de áreas vegetadas dentro da estrutura, o que pode reduzir a poluição atmosférica e sonora, além de atenuar os efeitos da ilha de calor urbana.

Mapa de cobertura vegetal de Taboão da Serra em 2021, mostrando áreas de floresta (verde), área de grama (amarelo) e área não vegetada (vemelho). Fonte: MapBiomas

De acordo com o MapBiomas, iniciativa que monitora a cobertura vegetal e outros dados ambientes, dos aproximadamente 20 km², mais de 87% (17,75 km²) do município de Taboão da Serra é de área não vegetada, com apenas 8,49% de área florestal (1,73 km²) e 4,41% (0,9 km²) de gramados, fato que tem impacto nas ilhas de calor da cidade.

A diversificação do uso do solo no entorno desses empreendimentos também pode trazer benefícios à comunidade local, como desenvolvimento do comércio ligado ao ramo funerário.

Cemitério da Vila Alpina, São Paulo (SP), inaugurado em meio a pandemia de Covid-19 em 2020. Foto: Reprodução (CNN).

De acordo com matéria divulgada pelo InfoMoney, o setor de serviços funerários no Brasil passa por um processo de consolidação, seguindo uma tendência semelhante nos Estados Unidos e Europa.

O mercado brasileiro fatura cerca de R$ 13 bilhões por ano, porém, ainda está atrás dos EUA, onde a previsão é de um faturamento de cerca de US$ 42 bilhões até 2027.

Quais são os pontos negativos?

Por outro lado, os cemitérios verticais também podem apresentar impactos negativos.

O mesmo estudo da revista Revista O habitar dos mortos: seriam os cemitérios verticais uma alternativa projetual sustentável para os impactos gerados pelos cemitérios tradicionais?

Tanto o artigo na revista Agro@mbiente On-line e quanto o artigo O habitar dos mortos: seriam os cemitérios verticais uma alternativa projetual sustentável para os impactos gerados pelos cemitérios tradicionais?, produzido por Marina Silva Seabra da Rocha, Eleonora Sad de Assis, Eduardo Cabaleiro Cortizo para o evento Fórum Habitar em 2018, apontam igualmente para os desafios relacionados à construção e operação desses empreendimentos.

Phoenix Memorial, cemitério vertical, em Santo André, fundado em 1993, conta com aproximadamente 5 mil lóculos. Foto: Reprodução (Reporter Diário)

Para eles, se não são consideradas as estruturas para evitar contaminação do ambiente, a possível liberação de gases sem tratamento é citada como uma desvantagem a ser enfrentada, sendo o impacto ambiental é um ponto de preocupação.

Essa preocupação se dá porque o necrochorume, líquido liberado durante a decomposição dos corpos, pode contaminar o solo, as águas subterrâneas e o ar caso haja vazamento dos jazigos, afetando a população envolta do cemitério.

Extravasamento de necrochorume no túmulo no Cemitério Municipal de Rio Claro, São Paulo. Foto: Artigo Técnico de Fernanda Vieira Xavier, Walter Malagutti Filho, Robson Willians da Costa Silva e César Augusto Moreira (Scielo)

Esse líquido contém bactérias, vírus, fungos e substâncias tóxicas, representando riscos à saúde humana e atraindo insetos e roedores, o que ampliaria a necessidade de atuação tanto do Centro de Zoonoses de Taboão da Serra quanto da Secretaria de Saúde.

O estudo cita também que a impermeabilização do solo nos cemitérios pode contribuir para o rebaixamento do nível freático e a erosão do solo.

Cemitério Vertical Público Biosseguro construído pela Prefeitura de Arthur Nogueira, na Região Metropolitana de Campinas em 2022. Foto: Divulgação Prefeitura Arthur Nogueira.

Outro ponto é a implantação desses empreendimentos pode levar a deslocamentos populacionais, já que muitas pessoas se ressentem de morar próximas a cemitérios, situação que pode levar a alterações nos preços dos imóveis nas imediações do local.

Igualmente, a construção pode gerar impactos psicológicos na população, muitas vezes associados a preconceitos e estigmas relacionados à existência de cemitérios.

Desafios para cidade

No contexto urbano, os cemitérios verticais podem gerar impactos relacionados ao tráfego e à segurança.

Em datas comemorativas, com Finados, Dia das Mães, Dia dos Pais e outros, o aumento do fluxo de pessoas pode congestionar as vias próximas aos cemitérios, exigindo medidas de controle e organização por parte da Companhia de Engenharia de Tráfego, o que implica de aumento dos gastos públicos com a implantação do local.

Cemitério da Saudade, na Vl. das Oliveiras, em 2013. Foto: Reprodução (Foursquare)

Além disso, é fundamental garantir a segurança dos arredores desses empreendimentos, evitando problemas como a violação de sepulturas e o tráfico de objetos roubados, o que também gera impactos nas políticas de segurança pública administradas pela Prefeitura.

Saiba mais

O evento acontecerá hoje (21), às 18h, no Plenário da Câmara Municipal, localizado na Estrada São Francisco, 2013, no bairro Jardim Helena.

A audiência é aberta ao público e tem como objetivo proporcionar um espaço de debate e esclarecimento sobre os impactos, benefícios e desafios relacionados à construção desse tipo de empreendimento e será transmitida no YouTube no link.

Serão apresentados estudos e pesquisas que embasam a proposta, além de oportunidades para que a comunidade possa expressar suas opiniões e fazer questionamentos aos representantes envolvidos no projeto.

Para mais informações sobre a audiência pública e o debate em torno da proposta de construção do cemitério vertical, acesse o site da Câmara Municipal de Taboão da Serra: www.camarataboao.sp.gov.br ou entre em contato pelo telefone (11) 4788–9300.